quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A Casa dos 7 Mortos - Filme B (1 de 2)


Quando você é criança, qualquer filme de terror pode ser bem assustador,  ponto de fazer você fechar os olhos e ainda colocar as mãos por cima pra garantir. No meu caso, o filme de terror que mais me aterrorizou quando eu era pequeno não resisti ao olhar de um adulto.  Bom, quase...


O filme, dos anos 70, era uma das pérolas do SBT, um daqueles filmes que passavam tanto que a fita provavelmente estava a ponto de furar. O filme era presença garantida no Cinema em Casa, Festival de Filmes do SBT, Sabadocine, Oito e Meia no Cinema, Fim de Noite, Duas Sessões, Sessão Premiada, Quinta no Cinema, Sexta no Cinema e na lendária Sessão das Dez (que nunca começava antes de 22h30). Acho que ele só escapou de passar no Cine Disney...


Pôster Incrível!
Para escrever essa postagem, acabei revendo o filme inteiro. Por sorte alguém botou no Youtube uma versão gravada direto da Sessão das 10. Pelo menos a dublagem naquele tempo era uma coisa de qualidade...

E como o cérebro humano é uma coisa engraçada: por mais piadas que eu mesmo já tenha feito sobre todos as crateras no roteiro do filme, rever essa porcaria me fez sentir um pouco o que eu senti quando vi pela primeira vez esse filme. Medo.  Lá no fundo da mente algum arquivo empoeirado foi aberto, e de dentro saiu uma pasta com as emoções que circularam pela minha mente quando eu era só um moleque de 9 anos.

O enredo do filme não é dos piores:

Uma equipe de cinema está filmando em uma casa onde sete assassinatos foram cometidos. O zelador, o incrivelmente sinistro Sr. Price (John Carradine, incrivelmente sinistro) adverte o diretor Eric Hartman (o mítico John Ireland) que eles não devem mexer com coisas que eles não entendem (os tais sete assassinatos tinham relação com práticas ocultistas). O diretor ignora os avisos por querer ser o mais autêntico possível e orienta seu elenco a reencenar os rituais que ocorreram na casa. Acabam invocando um zumbi do cemitério que fica próximo da casa.
 
Bom, como eu disse, a ideia não é tão ruim. O problema mesmo é a maneira como o filme é conduzido.

Só pra avisar, daqui pra baixo vou encher de spoilers.  Não dá pra falar dos acertos (poucos ) e erros (muitos) desse filme sem falar muito sobre o que acontece no filme.

A ideia vem do básico do cinema de horror: um grupo de pessoas em um local antigo e afastado da civilização são confrontados com uma situação que envolve forças ocultas. Horror gótico em seu estado mais puro: uma mansão assombrada, um zelador sinistro, um gato chato...

Aliás, falando em Mansão Assombrada... a casa usada para a filmagem é a mansão do Governador de Utah, em Salt Lake City (EUA). Que lugarzinho mais macabro...
 
Mas que lugar macabro...
 
Brincadeira, pessoal. A mansão mesmo até que é bem bonitinha... Ponto para o pessoal do filme, que conseguiu achar o enquadramento e a iluminação adequados para transformar um prédio oficial em uma mansão de pesadelo.

 
Mas que lugar agradável!


 O filme começa com a morte de todos os membros da tal família Beal. Um é jogado do alto de uma escada, uma aparece afogada na banheira, um leva alguns tiros, uma surge enforcada, um toma uma série de porradas na cabeça, um é esfaqueado, um aparece afogado... essa cena inicial mais movimentada contrasta com o resto do filme, que se desenvolve muito mais mostrando as mazelas de uma equipe de cinema filmando com um diretor tirânico e estressado.


Fala a verdade... Não parece um daqueles filmes baseados na obra de Nelson Rodrigues?



Mas pelo menos o casal mais velho tem uma química melhor do que o casal jovem. É uma química em desequilíbrio constante, mas pelo menos tem algumas ligações covalentes...





Voltando ao filme: Aparentemente, ao longo dos anos, todos o membros dessa família fizeram pactos terríveis, venderam suas almas e tiveram mortes horríveis e violentas (Bom, levando em conta os tipos de mortes atuais nos filmes, não tão horríveis... ). Quando você para pra pensar sobre isso fica a pergunta: "Cara, será que nenhum deles pensou que fazer o tal ritual/vender sua alma não era lá uma coisa tão boa?"  O lema da família deveria ser "Repetir, repetir, repetir até ficar diferente." - Manoel de Barros.

Mas, enfim...

Após a morte dos membros da família, vemos uma mulher fazendo um ritual no melhor estilo cinema anos 70: ela diz algumas palavras de frente para um círculo desenhado no chão. De repente um rosto aparece no círculo.  É o rosto do zumbi que vai aparecer mais tarde e sair matando todo mundo do filme (Upsie! spoiler...). A mulher, por algum motivo, começa a gritar ~coisas tipo "Não! Vá embora!". Esse aí já é a primeira coisa sem explicação no filme. Logo em seguida é revelado que era tudo uma parte da filmagem. Se era uma parte da filmagem, por que o rosto do monstro apareceu no centro do círculo? Não era efeito especial da filmagem, não foi resultado do ritual, mas também não foi uma alucinação da atriz... então, por que o bicho apareceu? Ninguém menciona mais isso no filme...  Não tente entender.

Bem vindos à Casa do Terror...
A filmagem é interrompida pelo sinistro zelador da propriedade, o senhor Bóris Price. Durante a filmagem de uma cena de assassinato ele diz "Não foi assim que aconteceu!"

Conforme o sinistro zelador anda pela casa, mostrando as pinturas a óleo dos antigos moradores da casa e falando sobre suas mortes misteriosas, somos apresentados aos outros autores do filme:

- O tirânico diretor Eric Hartman, dono de um temperamento irascível e de uma língua afiada, está preocupado com suas filmagens e se dispõe tirar o melhor de sua equipe para terminar seu filme com qualidade, nem que para isso tenha que encher os pobres bastardos de porradas verbais (interpretado com brio pelo excelente ator veterano John Ireland, que participou, entre outras coisas, dos clássicos Spartacus e Rio Vermelho).

- Gayle Dorian, a estrela da filmagem. Ao longo do filme ficamos sabendo que ela já foi uma estrela de primeira grandeza, mas com a idade os papéis começaram a rarear e ela tem que se submeter a participar de filmes de quinta categoria - acaba sendo uma piada interna com o próprio filme. Ela também já teve algum tipo de rolo com o diretor. Ah, sim... ela possui um gato que tem nome de gata... Cléo.  (Gayle é interpretada por Faith Domergue [1924-1999], que também participou de vários filmes e era uma boa atriz. Infelizmente esse terror "classe C" foi seu último filme).
David (ou Dave para os íntimos) - Aparentemente o assistente do diretor, mas também faz uma ponta como um cara que é esfaqueado nas filmagens. Foi ele quem encontrou a mansão para as filmagens e parece ser o braço direito do diretor... segue o chefe pra todo lado como um cachorro. Ele tem algum rolo com Anne, a beldade feminina do filme. Interpretado por Jerry Strickler.

Anne - A típica mocinha de filme de terror. Fica o filme todo assustada ou mendigando a atenção do namorado/peguete/seja lá o que for David, que prefere ficar lendo o livro que achou na mansão... Esse David deve estar morto... (hehehe). Interpretada por Carole Wells.

 - Christopher Millan   - O galã da filmagem. Está sempre penteando o bigode e passando a mão pelos cabelos negros e fartos. Ele é o que participa ativamente do primeiro plot twist do filme: ao entrar em seu quarto depois da noite de filmagens, tira o bigode e a peruca.  Wow! (interpretado por Charles Macaulay, um medalhão do cinema. Cara gente boa, participou de alguns episódios de Jornada nas Estrelas inclusive).

E é isso. Existem mais outros tantos atores no filme, mas eles estão lá só pra ser mortos. Uma exceção, que só vou considerar por que sei lá, é o tal de Ron, o maquiador das filmagens e que por duas ou três vezes tenta ser o alívio cômico do filme. O problema é que ele é engraçado como um garoto de 9 anos. Os outros ficam pra lá e pra cá, montando cabos e carregando coisas.
Ou seja, desenvolvimento de personagens nota zero. O diretor é o tirano caricato, a estrela decadente acaba sendo seu amor bandido, o galã do filme fica fazendo monólogos como se estivesse em apresentações teatrais do nada, Dave realmente não se define e fica o tempo todo pra lá e pra cá com o tal livro embaixo do braço e Anne é praticamente Salsicha e Scooby Doo em uma mesma pessoa.

Nessa cena temos 4 atores e 2 figurantes.



A postagem estava ficando muito grande, então....

Continua.

Um comentário:

  1. Eu era criança e lembro da história desse filme.era horripilante mas muito bom ,bons tempos de sbt.

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