terça-feira, 30 de agosto de 2016

Aluna aplicada

 
 
Colocou a desempenadeira no chão. A camada de cimento estava uniforme. Logo poderia colocar o piso. Seu marido ficaria orgulhoso se não estivesse enterrado ali embaixo.

 
 

A Coisa no luar - H.P. Lovecraft


Morgan não é  um literato; na verdade, ele mal consegue falar inglês com algum grau de coerência. É isso o que me faz estranhar as palavras que ele escreveu, embora outros tenham gargalhado. Ele estava sozinho na noite em que aconteceu. Subitamente uma vontade incontrolável de escrever lhe assomou, e tomando a pena na mão ele escreveu o seguinte:
 
Meu nome é Howard Phillips. Vivo na Rua College, 66, em Providence, Rhode Island. A 24 de novembro de 1927 — pois não sei sequer em que ano estamos agora — adormeci e sonhei, e desde então tenho sido incapaz de despertar. Meu sonho teve início num pântano úmido e atulhado de juncos que jazia sob um céu cinzento de outono, com um desfiladeiro encapelado de rochas cobertas de liquens elevando-se ao norte.
 
Impelido por alguma motivação obscura, subi numa fenda ou fissura nesse gigantesco precipício, notando enquanto o fazia as bocas negras de muitos buracos terríveis estendendo-se de ambas as partes até as profundezas do platô de pedra. Em vários pontos a passagem era coberta pelo chocalhar das partes superiores da fissura estreita; esses lugares sendo excessivamente escuros, e proibindo a percepção de tais buracos que possam ter existido ali. Em tal espaço escuro senti consciência de um singular acesso de pânico, como se alguma sutil e incorpórea emanação do abismo estivesse engolindo meu espírito; mas a escuridão era grande demais para que eu pudesse perceber a fonte de meu alarme.



Concluindo, emergi sobre um platô de rocha musgosa e solo pobre, iluminado por um pálido luar que havia substituído o orbe moribundo do dia. Lançando meus olhos ao redor, não vi objeto vivo; mas estava sensível a uma comoção muito peculiar que vinha muito abaixo de mim, entre os sussurrantes vestígios do pântano pestilento que eu havia acabado de abandonar.
 
Depois de caminhar por uma certa distância, encontrei os trilhos enferrujados de uma ferrovia de rua, e as placas comidas de cupins ainda seguravam o trole em boas condições. Acompanhando esta linha, logo dei com um carro amarelo de vestíbulos de número 1852 — de um tipo de dois vagões comum entre 1900 e 1910. Não estava tinindo, mas evidentemente preparado para partir; o trole estando no fio e o freio aéreo de quando em vez pulsando abaixo do chão. Entrei a bordo e olhei em vão pelo interruptor de luz — notando, enquanto o fazia, a ausência de cabineiro, que assim implicavam a ausência do motorneiro. Então sentei-me num dos bancos cruzados do veículo.
 


Ouvi um farfalhar na grama esparsa à esquerda, e vi as formas escuras de dois homens caminhando ao luar. Tinham os quepes de uma companhia ferroviária, e não pude duvidar de que fossem o condutor e o motorneiro. Então um deles fungou com presteza singular, e elevou o rosto para uivar para a lua. O outro caiu de quatro para correr na direção do carro. Levantei-me de um salto e corri como louco para fora daquele carro e atravessei intermináveis léguas de platô até que a exaustão me forçou a parar: fazendo isto não porque o condutor tivesse caído de quatro, mas porque o rosto do motorneiro era um simples cone branco com um tentáculo vermelho como sangue na ponta…
Eu estava ciente de que apenas sonhava, mas a própria consciência não me foi agradável. Desde aquela noite pavorosa, tenho rezado apenas para despertar: isso não acontece! Ao invés disso eu me encontro com um habitante deste terrível mundo dos sonhos!
 
Aquela primeira noite deu lugar à aurora, e caminhei sem rumo pelos pântanos solitários. Quando a noite veio, eu ainda caminhava, esperando acordar. Mas subitamente abri caminho entre os juncos e vi à minha frente o antigo bonde: e, a um lado, uma coisa com rosto em forma de cone levantava sua cabeça e uivava estranhamente para o luar que se derramava!
 
Tem sido a mesma coisa todo dia. A noite sempre me leva àquele lugar de horror. Tenho tentado não me mover com a chegada da noite, mas devo andar em meu sonambulismo, pois sempre acordo com a coisa de terror uivando à minha frente na pálida luz do luar, e viro-me e fujo como um louco.
 
Deus! Quando despertarei?
 
Foi isso o que Morgan escreveu. Eu iria à Rua College 66, em Providence, mas tenho medo do que posso encontrar lá.
 
 

∗ QUATRO FRAGMENTOS (Azathot, The Descendent, The Book, The Thing in the Moonlight): estes fragmentos descobertos entre os papéis de Lovecraft são presumivelmente suas tentativas de se estabelecer em formas rudimentares, preparando-se para expansão em histórias mais longas, alguns de seus sonhos. Nenhum deles jamais foi aumentado. Chaves para as fontes de sonhos destes fragmentos podem ser encontradas em cartas escritas por Lovecraft.
 





 

Noite dos Arrepios - Clássico B

Noite dos arrepios, de 1986, é um daqueles filmes que eu gosto tanto que um post só não vai ser suficiente.

Então esse é o "1 de 2"  sobre essa pérola do cinema da década de 1980 e cult eterno dos filmes B.






Nesse primeiro post vou falar um pouco sobre o enredo do filme (sem spoillers) e recomendar o por quê é um filme interessantíssimo para os amantes de filmes de terror antigos. No segundo post vou analisar os elementos e, claro, acabar dando vários spoillers...

Então, lá vai.

Noite dos Arrepios

Título Original: Night of the creeps
Ano de lançamento: 22 de agosto de 1986
Direção: Dekker
Roteiro: Geof Miller, Lewis Abernathy


Elenco
 
  • Jason Lively ... Christopher 'Chris' Romero
  • Steve Marshall ... James Carpenter 'J.C.' Hooper
  • Jill Whitlow ... Cynthia 'Cindy' Cronenberg
  • Tom Atkins ... Det. Ray Cameron
  • Wally Taylor ... Det. Landis
  • Bruce Solomon ... Det. Sgt. Raimi
  • Vic Polizos ...   Legista
  • Allan Kayser ... Brad
  • Ken Heron ... Johnny
  • Alice Cadogan ... Pam
  • June Harris ... Karen
  • David Paymer ... Cientista do Laboratório do Campus
  • David Oliver ... Steve
  • Evelyne Smith ... Monitora
  • Ivan E. Roth ... Maníaco Fugitivo



  • "Não sei quem fui..."
    Chris e J.C. são dois estudantes universitários no estilo "deslocado" dos anos 80. Não são do tipo atlético e pelas escolhas que fazem ao longo do filme também não são os mais espertos... mas são gente boa.



    Durante uma festa na Universidade Corman, com muitas mulheres bonitas passando pra lá e pra cá, Chris se interessa por uma aluna (Cindy).  



    Como os dois são uma dupla de Zé Manés, resolvem que a melhor maneira de impressionar a gata é entrar para uma das fraternidades do Campus, os Betas.

    O líder dos Betas, (o panaca mauricinho típico vilão de meia tigela dos anos 80) Brad, diz que eles precisam  realizar um "ato de devoção" para provarem sua lealdade à fraternidade: roubar um cadáver do departamento de anatomia da universidade e jogá-lo na frente da casa da fraternidade adversária, os Alfas.

    Muito laquê!
    Durante a missão, algo sai muito errado: o cadáver mostra não estar tão morto assim e os dois saem de lá correndo.

    Esse é o começo de uma série de acontecimentos bizarros no Campus.

    Como diz o Detetive Cameron lá pela metade do filme, na versão dublada primorosamente  pela voz do grande José Santa Cruz:

    "Zumbis... cabeças explodindo... coisas rastejantes... e um encontro pro baile.  É um clássico, Graúna."

    Mito!
    "Tenho boas e más notícias..."

    Por que vale a pena ver:

    Além de ser uma homenagem aos filmes B dos anos 50, várias citações deixam o filme com um ar de estudo cinematográfico, cheio de referências geniais. Uma parte do filme, inclusive, é filmada não apenas em preto e branco, mas com toda ambientação, roupas, acessórios e músicas da década de 50.

    O nome da faculdade do filme, Universidade Corman, é uma homenagem à Roger Corman. Os nomes de vários personagens do filme fazem referência a outros diretores de filmes de terror, ficção, etc. Temos George A. Romero, James Carpenter, Tob Hooper, David Cronenberg, James Cameron, Sam Raimi.

    O Detetive Cameron é uma citação em carne e osso dos detetives durões de filmes policiais noir. Pra confirmar mais ainda isso, nas cenas em sua casa podemos ver dois livros dos mestres/criadores desse gênero, Samuel Dashiel Hammet e Raymond Chandler na sala do detetive.

     








    Evento Livros em Pauta - Imperdível!

     
     
     
    Evento imperdível em São Paulo. Pra quem se interessa por Literatura, quadrinhos, RPG e outras mídias nerds. Separem um dia nas suas agendas.
     
    Quando?
     Dia  08 de outubro, de 12h às 20h.
     
    O quê?
    7ª edição do Livros em Pauta.
     
    Onde?
    Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação – FAPCOM, que fica à Rua Major Maragliano, 191 – Vila Mariana São Paulo, SP (Estação Ana Rosa do metrô).
     
     
    A entrada é gratuita, assim como todas as atividades que acontecem no evento. Além disso, fornecem certificados de participação.
     
    Mais informações sobre o evento, acessem:
     
     
     
     

    segunda-feira, 29 de agosto de 2016

    Grandes Mestres do Horror - W. W. Jacobs


    Em homenagem aos Grandes Mestres do  Horror, vou começar uma série de postagens sobre aqueles que tiraram o sono de muita gente com seus contos sobre Horror, Medo, o Fantástico e o Desconhecido.



    W. W. Jacobs
    (08/09/1863 - 01º/09/1943)

    William Wymark Jacobs

    Escritor inglês de contos e romances. Apesar de ter sua produção literária constituir-se principalmente por histórias com um tom mais bem humoradas e que tratam de aventuras de marinheiros (a marca impressionante de 19 volumes de contos sobre esse tema, uau!), sua obra mais famosa, especialmente no Brasil, é o conto chamado "A Pata do Macaco" (no original, The Monkey's Paw), publicado originalmente em uma coletânea de histórias curtas intitulada The Lady of the Barge (1902).

    Emblema de Birkbeck
    Jacobs nasceu em Wapping, Londres. Seu pai era um gerente de cais em South Devon no Lower East Smithfield. Foi educado em uma escola particular em Londres e mais tarde no Birkbeck College (então chamado Birkbeck Literary and Scientific Institution, agora parte da Universidade de Londres).
    Em 1879, Jacobs começou a trabalhar como funcionário dos correios (Post Office Savings Bank). Em 1885 ele teve seu primeiro conto publicado. Seu caminho para o sucesso foi relativamente lento.

    Casou-se em 1905 com Agnes Eleanor Williams, uma sufragista (pessoa que defende a extensão dos votos a todos, sem distinção de raça, sexo, poder econômico, origem, etc). Jacobs declarou que embora tivesse opiniões de esquerda na juventude, em seus últimos anos sua posição política era "conservador e individualista".

    Sua produção literária diminuiu acentuadamente durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e o autor passou a se dedicar a adaptar suas obras para o teatro.

    Jacobs morreu em Hornsey Lane, Islington, Londres, aos 80 anos.



    Duas Obras do Mestre que recomendo:


    A Pata do Macado - Uma família tem contato com um amuleto (a pata do macaco) capaz de conceder três desejos à pessoa que o segura.  Entretanto, cada desejo traz consigo consequências não tão agradáveis.

    The Toll-House - Quatro homens conversam sobre uma casa supostamente mal assombrada. Para provar que fantasmas não existem, decidem passar a noite no local.

    Nota: Toll significa não apenas pedágio, na tradução literal. Também significa: "vítimas, fatalidades, mortos, etc". E take a toll, por sua vez, pode significar "prejudicar, afetar, lesar, vitimar, etc." Nesse sentido, "Toll-House" tem um duplo sentido: Casa de Pedágio e/ou Casa das Fatalidades.
    Fonte: http://www.teclasap.com.br/toll-nao-significa-so-pedagio/




    Fontes:

    https://en.wikipedia.org/wiki/W._W._Jacobs

    http://www.letrasperdidas.galeon.com/c_jacobs00.htm


    quinta-feira, 25 de agosto de 2016

    Rua vazia

     
     



    Continuei pela rua vazia, tinha que encontrar alguém. Não conseguia pensar em mais nada, só em sangue.






    Deep Star Six (ou O Abismo do Terror) - Filme B

    Qualquer dia é uma boa época para retirar a poeira da prateleira dos DVDs e fazer uma sessão nostalgia TRASH!

    O filme, como você já deve saber pelo título da postagem, se chama originalmente Deep Star Six, mas aqui no Brasil recebeu o nome de Abismo do Terror (pra aproveitar uma carona no Segredo do Abismo, imagino eu...).

    Bom, vamos lá.




    Título Original: Deep Star Six
    Ano de lançamento: 1989
    Direção: Sean S. Cunningham
    Roteiro: Geof Miller, Lewis Abernathy


    Elenco

    Taurean Blacque como capitão Phillip Laidlaw, o comandante da estação
    Nancy Everhard como Joyce Collins
    Cindy Pickett como Dra. Diane Norris, médico
    Miguel Ferrer como Snyder, mecânico
    Greg Evigan como McBride, piloto submarino
    Matt McCoy como James 'Jim' Richardson
    Nia Peeples como Scarpelli, bióloga marinho
    Marius Weyers como Dr. John Van Gelder
    Elya Baskin como Burciaga
    Thom Bray como John 'Johnny' Hodges
    Ronn Carroll como Osborne


    Após 6 meses em confinamento, os tripulantes de uma base no fundo do mar estão prontos para instalar uma plataforma lançadora de misseis intercontinentais secreta (estamos em plena Guerra Fria, lembram-se?) quando descobrem que no lugar existe uma caverna próximo à base.
    Que dor nas costas...
    Uma das tripulantes, a bióloga Marinha Scarpelli, tenta impedir a instalação dos misseis, acreditando que a recém descoberta caverna poderia abrigar um ecossistema completamente desconhecido para a humanidade. Os responsáveis pela missão, por estarem sob a tutela militar, ignoram seus pedidos em nome da segurança nacional. Um submarino de reconhecimento é enviado para dinamitar a caverna, e assim, minimizar os riscos de um desabamento decorrente do peso da instalação. Essa operação dá errado, o que acaba libertando um crustáceo pré-histórico que habita a caverna.



    Digerindo o que se viu....


    Spoilers adiante. Continue até o fim da área amarela. Obrigado.

    Deep Star Sixa não é um bom filme. Quer dizer, mesmo para os padrões de um filme B ele deixa muito a desejar.

    Vamos ver...

    O elenco é composto pela nata da equipe de apoio cinematográfica. Em outras palavras, são aquelas pessoas que sempre que participam de grandes produções do cinema são figurantes de luxo. Além de serem atores sem carisma, recebem papéis de personagens com os quais é impossível desenvolver qualquer tipo de empatia... isso para um filme de terror é complicado. Como você vai se preocupar com a segurança de alguém do qual você não give a damn?


    A exceção honrosa é Miguel Ferrer. Apesar de interpretar o cretino-cínico-covarde do filme, ele rouba a cena sempre que aparece.

    Ferrer diz "Upsie!"
    Um espertinho a menos

    Sean S. Cunningham já fez coisas mais interessantes (Sexta-Feira 13 é criação desse cara!!!!) mas aqui ele perde a mão bonito. Apesar de, espertamente, tentar apostar na claustrofobia (uma boa estratégia, considerando a limitação de orçamento, espaços e cenários) mas as locações são pouco imaginativas e meio caricaturizadas. Não me canso de odiar a cena em que dois tripulantes pilotam o submarino de reconhecimento e alguns dos controles essenciais estão localizados às costas do piloto, que tem de ficar se virando pra acionar os botões e , consequentemente, tirando os olhos dos visores e da tela. Quem pelo amor de Deus colocaria um equipamento assim em um submarino? É o mesmo que colocar um volante nas costas do motorista...

    Por fim, o monstro... no começo você acha que ele é algo enorme - afinal ele afunda um submarino... e depois ajuda a comprometer seriamente a estrutura da base - na base da porrada mesmo. Mas quando ele invade a base, apesar do cabeção enorme, é só um ator fantasiado... Acho que uma forma mais próxima dos crustáceos reais seria mais crível. Acho que se tivessem filmado um caranguejo real num cenário-maquete ficaria mais interessante... ou pelo menos mais divertido.

    Resumindo, no final das contas foi uma boa idéia colocada em prática de maneira preguiçosa e equivocada.

    Um técnico ajuda a retirar o tártaro dos dentes(?) do Crustáceo
    É hoje que eu te como!

    Bom, resumindo, não é um filmaço, nem um bom filme B, mas para uma noite chuvosa ou para um encontro de amigos ou, mais especificamente, para quem se interessar em olhar os cenários externos para se inspirar na confecção de maquetes ou modelos, é bom.

    O grande problema é que ninguém se interessou em restaurar ou reparar a imagem desse filme digitalmente, o que torna as imagens meio borradas. Então, prepara as vista!








    Fontes




    terça-feira, 16 de agosto de 2016

    À Mesa



    Dos três homens sentados ao redor da mesa, apenas um permanecia vivo. Os demais o observavam sorrindo, esperando que se juntasse a eles.




    segunda-feira, 15 de agosto de 2016

    A Floresta Maligna - Crítica

    Vamos nos enveredar pelo mundo da crítica cinematográfica.
    Para começar bem - ou não - escolhi um filme chamado A Floresta Maligna.
    Primeiro vou falar sobre a trama do filme (ou o plot, se preferirem) e depois vou dar minha humildae opinião a qual eu, invlusive, respeito muito.
    Bom, vamos lá.

    Let´s do it.
    Trama do Filme
    Sara e Jess... adivinha quem é a gêmea doidona!
    Sara Price (Natalie Dormier, a Margaery Tyrell na série de televisão Game of Thrones, que passa na Warner... será que ela já morreu na série? Nego lá não faz outra coisa...) tem uma irmã gêmea, Jess Price (interpretada por ela mesmo, claro... dã) e está preocupada com o seu desaparecimento misterioso no Japão.
    Ao chegar ao país do Sol Nascente começa a ficar preocupada com o fato de a irmã ter ido para a floresta de Aokigahara, no Japão, mais conhecida como a Floresta dos Suicidas.
    Apesar de todos a alertarem para não ir, ela entra na floresta (claro, senão não iria ter filme, caramba), repleta de horrores inexplicáveis, determinada a descobrir a verdade sobre o destino de sua irmã.
    
    Se vai vomitar, mete o pé
    Nessa empreitada ela é ajudada por Aiden, um repórter aventureiro australiano (o ator americano Tailor Kinney, o Kelly Severide da série Chicago Fire, que passa no USA) e por Michi (Yukiyoshi Ozawa, de Unforgiven-não confundir com o Clássico de Clint Eastwood,  e Samurai X) um guia da floresta que faz a ronda a procura de suicídas, conversa com os potenciais e comunica às autoridades onde estão os corpos.
    Bom, esse é o filme.
    Vamos à Crítica!
    O melhor cartaz... que aliás já tem uma incorreção...saiu gente bragarai de lá no filme
    Crítica
    Vou avisar só por desencargo de consciência:  Spoiller Alert ou, como eu prefiro, revelações sobre o enredo do filme a seguir.
    O filme parte de uma premissa interessante inicialmente. Eu particularmente fiquei empolgado na medida do possível quando soube que fariam um filme sobre a lendária Aokigahara (ou Mar de Árvores). Já tinha lido sobre anos antes e o lugar é realmente bizarro.  Imagine um espaço gigantesco, inóspito e deserto onde as pessoas vão para, simplesmente, se matar.  Agora imagine-se andando por ela a noite... sabendo sobre todas as lendas de espíritos vingativos do local.
    Falando nisso, se estiver a fim de saber um pouco mais sobre esse singelo (sinjelo? berinjelo? berinjela? beringela? tijela? tigela?) lugar, dá um pulo no meu outro blog (tenho vááááários, a dar com o pau) que fala também sobre lugares sinistros do planeta.
    Aqui o endereço. Só meter o dedo... ou o cursor, você escolhe.
    Mas o filme me decepcionou. Começando pela protagonista. Apesar da motivação dela ser bem fundamentada para fazê-la entrar no tal lugar, a preocupação com a irmã gêmea, não convence sobre muitas de suas decisões. Podemos perceber que as histórias do local começam a afetá-la antes dela entrar na floresta... sendo assim, mesmo com toda preocupação com a irmã, não seria mais lógico se ela pedisse - ou até implorasse - para que Aiden (Raiden?) ficasse com ela?
    Cosplay da Sailor Moon do Além
    Sem contar o encontro dela com a japinha na floresta a noite. Sei lá, se eu já estou bolado em um local com fama de assombrado e aparece alguém do nada do meio do mato, mesmo sendo uma menininha com aquela roupa do Pato Donald que as japonesas usam na escola, provavelmente não ia ficar pra ouvir histórias dela. Ou ia tacar uma acha de madeira na cabeça da aparição ou simplesmete ia colocar 10 no coelho e sair dali.
    O filme tem muitas tomadas de dia o que, a meu ver, prejudica muito... o lugar se manifesta mesmo a noite, segundo o relato dos personagens do próprio filme falam e pelo que se lê na internet. Então acaba havendo uma exploração pobre dos poderes da floresta e de seus habitantes a noite.
    Além disso, talvez a pouca quantidade de personagens prejudique um pouco a própria dinâmica do filme. Não sei mas se o Michi tivesse ficado durante a noite teria sido mais interessante, talvez mais dinâmico.  Já deu pra matar desde o princípio que o Aiden não era o psicopata que a Floresta fez Sara acreditar. As imagens ficaram bem tendenciosas... tipo, ficou tão explícito que era ele que dava pra saber que não era ele.  Não sei, mas já deu pra ver que aquilo era só uma pista falsa, um red hering.
    Falando em red hering e sub-plots - ou sub-tramas - o trauma dela a respeito da morte dos pais ficou meio deslocado... não me convenceu. Foi tipo a alface do Big Mac... não sentiria falta se não estivesse por lá.

    Sem contar a maldição dos filmes de terror de hoje em dia: os Jump Scares... o filme abusa de Jump Scares em momentos que não tem nada a ver (o mendigo japonês maluco, a senhora cega no hotel de noite) e tem uma revelação dos terrores da floresta morna.

    Não se preocupe... sou só um Jump Scare
    Além disso, a irmã dela, a Jess, aparece viva e com saúde suficiente pra correr no final do filme, indo parar em segurança nas mãos da equipe de resgate mandada pra achar Sara e Aiden quando eles já estavam na estrada pavimentada para ir embora... ou seja, ela estava perto do local de movimento o tempo todo e não achou, apesar de ter ficado um tempão perdida na floresta... Como assim? Sem estar faminta, sem hipotermia, sem alunicações por causa dos fantasmas?



    Uááááhhh... que sono!

    E a cena final...  aí um desentendido fica naquela,

    "Será que o Michi morreu quando viu o fantasma da Sara parado ali?"

    - aquele zoom pode dar ideia de que ela atacava ele.  Claro que isso não teria sentido, uma vez que a floresta, e seus fantasmas, não matam ninguém, mas os levam a se matar através do engano e de alucinações (em teoria, pelo menos algumas das pessoas;  a maioria quer se matar mesmo).

    Pra provar que nego entendeu errado, vamos a um trecho da Wikipedia sobre o filme:

    As the search party leaves Michi is seen staring at a figure and realizes, too late, that it's Sara's spirit.

    Tradução: Assim que o grupo de buscas parte Michi percebe uma figura o encarando e percebe, tarde demais, que é o espírito de Sara.

    Por que tarde demais? Ela atacou ele? Não é assim que funciona... não funcionou assim o filme todo e agora, nos últimos 5 segundos do filme vocês mudam a regra do jogo?  Se fosse assim desde o começo, teríamos mais ação, mais tensão, mais suspense!  Mas você ficaram só nos jogos mentais... terror psicológico...  Pra do nada virar Sexta-Feira 13 no Japão?

    Isso me deixa irritado...
    É bonita por dentro? Vira do avesso, capeta!
    Enfim, Floresta Maligna não cumpre o que promete. É um filme de terror pra ver e ser esquecido... Pelo menos não é um filme de terror que irrita conforme você assiste.  Junte uns amigos, faça uma pipoca e... cai dentro.

     
    Assim termino minha primeira crítica.


    Resumindo: O filme Floresta Maligna não é lá essas coisas. Assista sem esperar muita coisa... e espera porque provavelmente vão fazer uma continuação disso.

    sábado, 13 de agosto de 2016

    A Pata do Macaco - W.W. Jacobs (Parte 3)


    III


    No enorme cemitério novo, a alguns quilômetros de distância, os velhos enterraram seu morto e voltaram para casa mergulhada em sombras e silêncio. Tudo terminara tão rápido que a princípio nem se davam conta do que acontecera, e ficaram num estado de expectativa como se fosse acontecer mais alguma coisa — algo mais que aliviasse esse fardo, pesado demais para corações velhos.



    Mas os dias se passaram, e a expectativa deu lugar à resignação — a resignação desesperançada dos velhos, às vezes chamada erradamente de apatia. Algumas vezes nem trocavam uma palavra, pois agora não tinham nada do que falar e os dias eram compridos e desanimados.

    Foi por volta de uma semana depois que o velho, acordando subitamente de noite, estendeu o braço e viu-se sozinho. O quarto estava no escuro e o ruído de soluços baixinhos vinha da janela. Ele se levantou na cama e ficou ouvindo.



    – Volte para a cama — disse ele ternamente. — Você vai ficar gelada.


    – Está mais frio para ele — disse a senhora, e chorou novamente.

    O som de seus soluços apagou-se nos ouvidos dele. A cama estava quente, e seus olhos pesados de sono. Ele cochilava a todo instante e acabou pegando no sono, quando um súbito grito histérico da esposa o despertou com um sobressalto.

    – A pata! — gritou histericamente. — A pata de macaco!

    Ele se levantou, alarmado.

    – Onde? Onde está? O que houve?

    Ela correu agitada até ele.

    – Eu quero a pata — disse ela calmamente. — Você não a destruiu?

    – Está na sala, em cima da prateleira — replicou ele atônito. — Por quê?

    Ela chorou e riu ao mesmo tempo e, debruçando-se, beijou-o no rosto.

    – Só tive essa ideia agora — disse ela histericamente. — Por que não pensei nisso antes? Por que você não pensou nisso antes?


    – Pensar em quê? — perguntou ele.

    – Nos outros dois desejos — replicou ela rapidamente. — Nós só fizemos um pedido.

    – Não foi suficiente? — perguntou ele, irado.

    – Não — gritou ela, triunfante; — ainda vamos fazer um.

    Desça, apanhe a pata rapidamente, e deseje que o nosso filho viva novamente.

    O homem sentou-se na cama e arrancou as cobertas de cima do corpo trêmulo.

    – Meu bom Deus, você está louca! Gritou ele, horrorizado.

    – Pegue aquela coisa — disse ela, ofegante –, pegue depressa, e faça o pedido… Ah, meu filho, meu filho!
    O Marido riscou um fósforo e acendeu a vela.

    – Volte para a cama — disse ele, incerto. — Você não sabe o que está dizendo.

    – Nós conseguimos satisfazer o primeiro pedido — disse a senhora, febrilmente. — Por que não o segundo?

    – Foi uma coincidência — gaguejou o velho.

    – Vá buscar a pata e faça o pedido — gritou a esposa, tremendo de excitação.

    O velho virou-se, olhou para ela, e sua voz tremeu.

    – Ele já está morto há 10 dias e, além disso, ele… — eu não queria lhe dizer isso, mas… só consegui reconhecê–lo pela roupa. Se já estava tão horrível para você ver, imagine agora?

    – Traga-o de volta — gritou a senhora, e o arrastou para a porta. — Você acha que tenho medo do filho que criei?



    Ele desceu na escuridão, foi tateando até a sala e depois até a lareira. O talismã estava no lugar, e um medo horrível de que o desejo ainda não expresso pudesse trazer o filho mutilado apossou-se dele, e ficou sem ar ao perceber que perdera a direção da porta. Com a testa fria de suor, ele deu volta na mesa, tateando, e foi-se amparando na parede até se achar no corredor com a coisa nociva na mão.


    Até o rosto da esposa parecia mudado quando ele entrou no quarto. Estava branco e ansioso, e para seu temor parecia ter um olhar estranho. Ele sentiu medo dela.



    – Peça! — gritou ela, com voz forte.


    – Isso é loucura — disse ele, com voz trêmula.

    – Peça! — repetiu a esposa.

    Ele levantou a mão.

    – Eu desejo que meu filho viva novamente.

    O talismã caiu no chão, e ele olhou para a coisa com medo.

    Então afundou numa cadeira, trêmulo, quando a esposa, com os olhos ardentes, foi até a janela e levantou a persiana.

    Ficou sentado até ficar arrepiado de frio, olhando ocasionalmente para a figura da velha senhora espiando pela janela.

    O cotoco de vela, que queimara até a beirada do castiçal de porcelana, jogava sombras sobre o teto e as paredes, até que, com um bruxulear maior do que os outros, se apagou. O velho, com uma imensa sensação de alívio pelo fracasso do talismã, voltou para a cama, e um ou dois minutos depois a senhora veio silenciosamente para o seu lado.

    Nenhum dos dois disse nada, mas permaneceram deitados em silêncio, ouvindo o tique–taque do relógio. Um degrau rangeu, e um rato correu guinchando através do muro. A escuridão era opressiva e, depois de ficar deitado por algum tempo, criando coragem, ele pegou a caixa de fósforos e, acendendo um, foi até embaixo para pegar uma vela.

    Nos pés da escada o fósforo se apagou, e ele parou para riscar outro; no mesmo momento ouviu-se uma batida na porta da frente, tão baixa e furtiva que quase não se fazia ouvir.

    Os fósforos caíram–lhe da mão e espalharam-se no corredor. Ele permaneceu imóvel, com a respiração presa até a batida se repetir. Então virou-se e fugiu rapidamente para o quarto, fechando a porta atrás de si.
    Uma terceira batida ressoou pela casa.

    – O que é isso? — gritou a senhora, levantando-se.

    – Um rato — disse o velho com voz trêmula –, um rato. Ele passou por mim na escada.

    A esposa sentou-se na cama, escutando. Uma batida alta ressoou pela casa.

    – É Herbert! — gritou. — É Herbert!

    Ela correu até a porta, mas o marido ficou na frente dela e, pegando-a pelo braço, segurou-a com força.
    – O que você vai fazer? — sussurrou ele com voz rouca.

    – É meu filho; é Herbert! — gritou ela, debatendo-se mecanicamente. — Eu esqueci que ele estava a 10 quilômetros daqui. Por que está me segurando? Me solte. Eu tenho de abrir a porta.

    – Pelo amor de Deus não deixe entrar — gritou o velho tremendo.

    – Você está com medo do próprio filho — gritou ela, debatendo-se. — Me solte. Eu já vou, Herbert; eu já vou.

    Ouviu-se mais uma batida, e mais outra. A senhora com um arrancão súbito soltou-se e saiu correndo do quarto. O marido seguiu-a até a escada e chamou-a enquanto ela corria para baixo. Ele ouviu a corrente chocalhar e a tranca do chão ser puxada lenta e firmemente do lugar. Então a voz da senhora soou, nervosa e ofegante.

    – A tranca — gritou ela alto. — Desça que eu não consigo puxar a tranca.

    Mas o marido estava de joelhos no chão, procurando a pata desesperadamente. Se pelo menos conseguisse encontrá–la antes que a coisa entrasse. Uma série de batidas reverberou pela casa, e ele ouviu o arrastar de uma cadeira quando a esposa a colocou no corredor encostada na porta. Ouviu o ranger da tranca quando esta se destravou lentamente, e no mesmo momento encontrou a pata de macaco, e desesperadamente fez o terceiro e último pedido.





    - Leve-o embora! Desapareça! Faça com que suma para sempre de nossas vidas!

    As batidas pararam subitamente, embora ainda ecoassem na casa. Ele ouviu a cadeira ser arrastada de volta, e a porta se abrir. Um vento frio subiu pela escada, e um gemido alto e demorado de decepção e tristeza da esposa lhe deu coragem para correr até ela e depois até o portão. 

    O lampião da rua que tremulava do outro lado brilhava numa estrada silenciosa e deserta.


    FIM

    A Pata do Macaco - W.W. Jacobs (Parte 2)


    II


    – Eu creio que todos os velhos soldados são iguais — disse a Sra. White. — Essa ideia de dar ouvidos a tal tolice! Como é que se pode realizar desejos hoje em dia? E se fosse possível, como é que iam aparecer 200 libras, papai?
    Na claridade do sol de inverno, na manhã seguinte, quando este banhou a mesa do café, ele riu de seus temores. Havia um ar de naturalidade na sala que não existia na noite anterior, e a pequena pata suja estava jogada na mesa de canto com um descuido que não atribuía grande crença a suas virtudes.

    – Morris disse que as coisas aconteciam com tanta naturalidade — disse o pai —que a gente podia até achar que era coincidência.– caindo do céu, talvez —disse Herbert, com ar brincalhão.

    – Bem, não gaste o dinheiro antes de eu voltar — disse Herbert, ao se levantar da mesa. — Estou com medo de que você se torne um homem mesquinho e avarento, e vamos ter de renegá–lo.

    A mãe riu e, acompanhando-o até a porta, viu-o descer a rua. Voltando à mesa do café, divertiu-se à custa da credulidade do marido. O que não a impediu de correr até a porta com a batida do carteiro, nem de se referir a sargentos da reserva com vício de beber, quando descobriu que o correio trouxera uma conta do alfaiate.

    – Herbert vai dizer uma das suas gracinhas quando chegar em casa — disse ela, quando se sentaram para jantar.

    – Com certeza — disse o Sr. White, servindo-se de cerveja –, mas, apesar de tudo, a coisa se mexeu na minha mão; eu posso jurar.

    – Foi impressão — disse a senhora apaziguadoramente.

    – Estou dizendo que se mexeu — replicou o outro. — Não há dúvida; eu tinha acabado… O que houve?

    A mulher não respondeu. Estava observando os movimentos misteriosos de um homem do lado de fora, que, espiando com indecisão para a casa, parecia estar tentando tomar a decisão de entrar. Lembrando-se das 200 libras, ela reparou que o estranho estava bem–vestido e usava um chapéu de seda novo.

    Por três vezes ele parou no portão, e depois caminhou novamente. Da quarta vez ficou com a mão parada sobre ele, e depois com uma súbita resolução abriu-o e entrou. A Sra. White no mesmo momento desamarrou o avental rapidamente, colocando-o debaixo da almofada da cadeira. Convidou o estranho, que parecia deslocado, a entrar. Ele olhou para ela furtivamente, e ouviu preocupado, a senhora desculpar-se pela aparência da sala, e pelo casaco do marido, uma roupa que ele geralmente reservava para o jardim. Então ela esperou, com paciência, que ele falasse do que se tratava, mas, a princípio, ele ficou estranhamente calado.

    – Eu… pediram–me para vir aqui — disse ele finalmente, e abaixando-se tirou um pedaço de algodão das calças. — Eu venho representando “Maw&Meggins”.

    A senhora sobressaltou-se.

    – Aconteceu alguma coisa? — perguntou ela, ofegante — Acontecem alguma coisa a Herbert? O que é? O que é?

    O marido interveio.

    – Calma, calma, mamãe — disse ele rapidamente. — Sente-se e não tire conclusões precipitadas. O senhor certamente não trouxe más notícias, não é, senhor — e olhou para o outro ansiosamente.

    – Eu lamento… — começou o visitante.

    – Ele está ferido? — perguntou a mãe desesperada.

    O visitante assentiu com a cabeça.

    – Muito ferido — disse. — Mas não está mais sofrendo.

    – Ah, graças a Deus! — disse a senhora, apertando as mãos. — Graças a Deus! Graças…

    Parou de falar de repente quando o significado sinistro da afirmativa se abateu sobre ela, e ela viu a terrível confirmação de seus temores no rosto desviado do outro. Prendeu a respiração e, virando-se para o marido, menos perspicaz, pôs a mão trêmula sobre a dele. Seguiu-se um demorado silêncio.

    – Ele foi apanhado pela máquina — repetiu o Sr. White, estonteado. — Ah! sim.

    Ficou sentado olhando para a janela e, tomando a mão da esposa entra as suas, apertou-a como tinha vontade de fazer nos velhos tempos de namoro há quase 40 anos.

    – Ele era o único que nos restava — disse ele, voltando-se amavelmente para o visitante. — É difícil.

    O outro tossiu e, levantando-se, caminhou lentamente até a janela.

    – A firma me pediu para transmitir os nossos sinceros pêsames a vocês por sua grande perda — disse ele, sem olhar para trás. — Eu peço que compreendam que sou apenas um empregado da firma e estou apenas obedecendo ordens.

    Não houve resposta; o rosto da senhora estava branco, os olhos parados e a respiração inaudível; no rosto do marido havia um olhar que o amigo sargento talvez tivesse na primeira batalha.

    – Devo dizer que “Maw&Meggins” estão isentos de toda responsabilidade —continuou o outro. — Eles não têm nenhuma dívida com a família, mas, em consideração aos serviços de seu filho, desejam presenteá–los com uma certa soma como compensação.

    O Sr. White largou a mão da esposa e, pondo-se de pé, olhou para o visitante horrorizado. Seus lábios secos pronunciaram as palavras:

    – Quanto?

    – Duzentas libras — foi a resposta.

    Indiferente ao grito da esposa, o velho sorriu fracamente, estendeu as mãos como um homem cego e caiu, desfalecido, no chão.